domingo, 1 de junho de 2008

Estranhos caminhos que a vida nos dá











Por: António Centeio





Nos seus olhos azuis podia-se ver aquilo que era. Além de bonita, também era inteligente. Duas coisas não muito comum em determinadas pessoas. Não era de ninguém mas nos seus olhos lia-se a eternidade de sempre. A solidão e a angústia foram a certeza dos seus encantos.
Apenas lutava para ter a certeza da sua existência. Dizia muitas vezes “não és a minha outra parte”. Só por isto, ensinou-me que a coisa mais importante da vida é “quando encontramos aquilo que procuramos sem renunciarmos todas as outras”.
Lembrar-me-ei dela durante toda a minha vida. Ela lembrar-se-á de mim. Assim como nos lembraremos do entardecer no vidro da janela, o cair da chuva e das coisas que teremos sempre mas que não podemos possuí-las. “ Esquece-me”. Respondia-lhe - nunca!
Nunca a esquecerei porque filosofávamos muito e porque «as coisas nem sempre são como queremos».
Isa, de seu nome, tinha como companheiro OTIS. Este apenas gostava de mim e via na minha pessoa aquela diversidade que nem sempre aparece no carisma dos seres humanos fazendo com que os mesmos vivam numa solidão eterna, não pensando nos dias de amanhã. Mas a intuição ensina-nos a conhecer a linguagem secreta que nos é útil nos momentos difíceis da nossa vida.
Nas “águas furtadas” do terceiro andar, a Lua Cheia tinha outro encanto fazendo com que a vida fosse generosa para nós e sempre pronta a dar-nos mais.
Estes momentos de experimentar o amor intenso devora quem ama e a gente não precisa de subir a uma montanha para saber se ela é alta.
Seus olhos derramaram lágrimas para magoar o coração de alguém. Dela, aprendi que a paixão não é como o amor. Dizia, que nos livros se aprende que a primeira apenas dura seis meses enquanto a segunda é eterna. Mas o amor causa a dor da separação para que a semente possa nascer de novo.
Hoje, as lágrimas de seus olhos ofuscam a paisagem desoladora de um rio em tempos tão amado e hoje recordado na memória de quem o viu.
A sua água entrou nas entranhas de quem por tantas vezes passou nela porque quando se viaja em direcção a um objectivo é muito importante prestar atenção ao caminho. O caminho é que sempre nos ensina a melhor maneira de chegar e enriquece-nos enquanto o estamos a cruzar.
Tinha a grandeza e a fama de ter uma mãos maravilhosas para que os seus pacientes não a ignorassem, mas a independência que queria nutria por ela a falta de uma liberdade nunca retirada. Esta capacidade de manter a sua personalidade foi a raiz profunda para que o homem nunca pare de sonhar. O sonho é o alimento da alma como a comida é o alimento do corpo. Muitas vezes, na nossa existência vemos os nossos desejos “frustrados” mas é preciso continuar a sonhar, senão a nossa alma morre.
Resta-me a esperança que OTIS se lembrará sempre de mim e que encontre na sua sabedoria e esperteza o mistério em como nos havemos de encontrar no brilho das estrelas e no encanto da lua. Lua esta que sabia reflectir na pequena janela do telhado a beleza do amor. Hoje resta-nos o silêncio para a meditação da solidão.
Timor era a sua meta para me deixar, mas nunca a atingiu porque afinal o sofrimento bem perto estava de sua casa e não havia necessidade de ir para Nascente.
Estranhos caminhos estes que a peregrinação nos dá. Tudo ficou distante no dia em que a voz nos atraiçoou e que as lágrimas foram apenas o elo de ligação para uma amizade que continua suspensa por uma questão de feitio.
Descobri que posso nascer quantas vezes quiser até os meus braços serem suficientemente grandes para abraçar a terra por onde andei e um dia voltarei. Afinal todos os caminhos são mágicos se nos levarem aos nossos sonhos.

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