quarta-feira, 28 de maio de 2008

Em busca do tesouro




Por: António Centeio


Xana era uma mulher vistosa até ao dia em que num acidente de automóvel ficou com mazelas, deixando-lhe deformações físicas. Nunca mais foi a mesma. Sua beleza exterior deixou de ter aquele encanto que tanto admirava e se orgulhava. Criou em si própria complexos, que quando olhavam para ela ficava nervosa. O médico acompanhante, e jovem como ela, dizia-lhe para consolo da sua alma “são apenas complexos”. Não estava longe da verdade. Continua sendo a mulher linda e encantadora que conheci, e por pouco, quase me apaixonava por ela.
O tempo é como uma “ borracha”, tudo apaga. Hoje é uma pessoa comum e já não liga quando a olham. Sempre foi uma mulher empreendedora. Mesmo sendo impossível deter o rio da vida e sem um centavo no bolso, mas com uma fé infinita, Xana, continua a ser aquela mulher que sempre admirei, tanto em corpo como em alma. Abriu uma clínica médica onde existem as mais variadas especialidades. De tal forma que tem o seu futuro garantido. Anterior ao acidente, costumava dizer-me que existe uma linguagem universal que está além das palavras. Se nós aprendermos a decifrá-las com esta linguagem conseguiremos decifrar o mundo. Tudo é uma coisa só, dizia ela.
Sempre disse que nunca se casaria. Achava o casamento um contrato burocrático com um pouco de hipocrisia à mistura. Mas o seu companheiro é algo que Xana muito preserva. Como a vontade é coisa que não lhe falta, busca algo que deseja e acredita. Agora dedicam-se os dois à filosofia com a companhia dos amigos mais chegados, nos quais me incluiu. São noites que perdemos mas justificadas pelo tempo utilizado.
Usamos para discussão o livro de Sofia. Um livro que demora a acabar mas que nos dá a hipótese de uma análise profunda.
Às vezes temos a impressão que há uma misteriosa energia que nos une ao mesmo tema. Alturas há, que estranhamos os nossos próprios instintos. Até Dudu a mascote de Xana, que nos faz companhia dá sinais para estarmos preparados para as surpresas da vida. Paulo, filosofa para que cada homem busque o seu tesouro e o encontre. Os sinais farão o resto, porque todos os dias são iguais, e quando todos os dias ficam iguais e, as pessoas deixam de perceber as coisas boas que aparecem nas suas vidas, não sabem perceber o sinal quando o Sol cruza o Céu.
Numa noite destas, Xana e Salém disse-nos que em determinado momento da nossa existência perdemos o controlo das nossas vidas e ela passa a ser governada pelo nosso destino. Numa altura da vida tudo é claro, tudo é possível, não temos medo de sonhar e desejarmos aquilo que gostaríamos de realizar. Olhem para mim: “1.72 de altura, uma vida de sofrimento e dor, sem filhos mas vivendo com um homem que me ama e amigos puros como vocês, onde alguns ainda sentem uma paixão por mim, não me devo sentir feliz?”
Então não é que descobrimos que a vida é constituída por símbolos, mensagens, sinais. São estes que nos regem a vida e nunca nos apercebemos porque não os vemos. Algumas vezes apenas os sentimos, como Xana, quando saiu de casa. Sabia que algo lhe ia acontecer no dia que ia buscar o seu diploma profissional a Lisboa. Desconfiou da emoção do papel que lhe daria o resultado do esforço exausto durante quase sete anos, mas não acreditou. Quando próximo de Aveiras viu vir um veículo pesado contra o seu carro então é que se lembrou daquilo que não sabia o que era mas que agora sabe.

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