quarta-feira, 28 de maio de 2008

Adalberto, um amigo porreirão



Por: António Centeio

Adalberto é um patusco e amigo da galhofa. Garganeiro, por defeito, não deixa de ser boa pessoa. Amigo de seu amigo está sempre pronto para a brincadeira. Leva os dias vagueando, no bom sentido, pelas ruas e ruelas da cidade, falando com este ou com aquele.
Pergunta a uns como vai a agricultura, a outros como vai a família e aqueloutros como vai a situação, porque segundo os seus conhecimentos, a coisa vai preta por causa da crise que o mundo atravessa, ou que atravessamos por via das asneiras dos outros. A haver, será sempre dos outros e nunca de nós.
Excepção, nos dias úteis, é o dia seguinte à segunda-feira. Dia de romaria e cavaqueira. Levanta-se bem cedo para assistir ao iniciar do dia e a fim de poder ver a montagem dos vendedores ambulantes no espaço a que alguns chamam de «Mercado Semanal». Nas redondezas do espaço ouve dizer: «um terreno valioso como este, de tão bem estar situado e com uma enorme ocupação semanal vendedores que nem factura passam mesmo sendo obrigatório) ser utilizado para outros fins ou encher a carteira a algum especulador? Nem pensar!».
Adalberto percorre de seguida com a sua calma de alentejano todo o espaço. Ouve aqui e acolá, para além ajuizar com velhos amigos o que antes ouviu. Assim pode ouvir o botar palavra de terceiros como fazer o seu próprio juízo, que nos dias que correm é preciso muito, se tomada em atenção for a idade da pessoa como dos que lhes juntam.
Por volta da metade do meio-dia, conforme os ponteiros das horas, vai arrancando a caminho de onde alguém o espera para lhe dar o merecido, obtido que foi das receitas dos rendimentos adquiridos em tempos passados por conta de outrém
Um sabichão disse-lhe: «pelo andamento que a coisa leva, qualquer dia nem para a sopa já chega». Quando pensa nas palavras do entendido, torna-se num desalmado e ralha com tudo e todos que o rodeiam, dando a impressão que são os culpados, mesmo que a sua velha Carminda, companheira que é há um ror de anos se compadeça sempre das malcriadices que vem da boca de quem tanto sabe.
Quando nas noites de tertúlia livre em que os vizinhos do bairro convivem na roda da mesa da sueca falando daquilo que todos falam, a noite passa a ser agoirenta para ficar também sem estrelas porque o «futuro está ameaçado por quem manda poupar mas não rentabiliza o que na sua posse está» ou não rentabilizou em devido tempo aquilo que deveria ser o sustento e de quem trabalhou tornando assim, a posteridade dos mais novos como um mergulho em águas baixas do rio.
Destes debates, o resultado, segundo os pareceres do Adalberto, foi ficar sem efeito a excursão, e as futuras, que estava marcada para o mês do ano com menos dias, aconselhando a quem o ouvia, que «estas passeatas deixam de ter efeito imediato para serem substituídas pelas Termas do Cartaxo».
Mais do que nunca, temos que começar a sermos forretas, já que no presente, até os bancos já estão a dar um “chouriço a quem lhes der um porco”.
A conclusão, como lógica do amigo patusco e galhofeiro, é que o futuro está a ficar preto demais para quem trabalhou e foi obrigado a dar à entidade responsável o «guardar uma parte daquilo que não queria para que da poupança um mealheiro tivesse nos dias de fim de vida». Aos que argumentam o contrário, que se cuidem, porque os saloios costumavam dizer: «Quando começares a ver as barbas do vizinho a arder mete as tuas de molho».

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